quarta-feira, 3 de julho de 2013

Seremos maus pais ao não dizer sempre NÃO?






Eu cá costumo dizer ao meu filho de três anos, em tom de brincadeira, que não temos uma fábrica de fazer dinheiro nas traseiras de casa, que os tostões não crescem nas árvores, etc. Ou então: Os papás estão pobres. Agora não pode ser, temos de comprar comida com os tostões.

São frases que saem disparadas da boca quando ele pede um boneco ou qualquer outra coisa no hipermercado ou no centro comercial que não podemos ou não queremos dar. Sim, porque não se pode transformar num consumista e achar que é tudo fácil e dado. E, muitas vezes, por muito que gostássemos, não podemos dar.

E não é que, algumas vezes, ele entende as nossas justificações? E até responde: "Mas eu tenho moedas e compro-te mamã. Com moedas de vidro!". E soltamos uma gargalhada com tamanha convicção, boa vontade e inocência tão própria daquela idade. Ou então, se não tem o brinquedo que pediu, vai perguntando se pode levar outros tantos que ele vai pegando enquanto testa o nosso NÃO e negoceia, com tanto jeitinho, a ver se ganha a negociação e nos testa a paciência. Também já deve ter pensado para com ele: "Se não levo brinquedos, então levo guloseimas". Sim, porque é capaz de pedir guloseimas ou bolachas em vez dos brinquedos aos quais dissemos NÃO. E lá traz qualquer coisa que pediu para casa...E quem ganhou a negociação? Ora lá está...

Mas, muitas vezes, damos-lhe os tais brinquedos, porque se portou bem e sem fazer qualquer birra.

Estarei a criar um pequeno tirano como aquele que a psicoterapeuta infantil Asha Phillips refere no seu livro “Um bom pai diz não"? Esbarrei hoje com um artigo do Expresso sobre esse livro, onde a psicoterapeuta defende que os pais modernos “estão a criar pequenos tiranos, que não sabem reagir a adversidades porque nunca foram contrariados. Ou então criam crianças medricas, absolutamente dependentes, que não sabem fazer nada sozinhas."

E torno a questionar-me: Estarei a criar um pequeno tirano? Só porque lhe quero proporcionar uma boa vida sem que nada lhe falte? Acho que não. Mas ela tem razão, porque temos de ter cuidado para, um dia mais tarde, não pagarmos uma fatura elevada pela nossa permissividade exagerada. E brinquedos a mais não são comida, não.

Mas não é nada fácil vestir a camisola de pais e não existe uma fórmula certa. E eles nem sequer vêm com manual! Como em tudo na vida, é preciso bom senso e saber dar-lhes a volta. E com isso vem o tal NÃO que os filhos não gostam nadinha de ouvir. E que nos custa tanto dizer e quando o dizemos até ficamos com um frio no estômago e, quantas vezes, com sentimento de culpa!...

Há que impor limites e dizer um NÃO com muita convicção na hora certa para que não estejamos a educar meninos mimados e os tais pequenos tiranos. E repito: só quem é mãe e pai é que sabe bem do que estou para aqui a falar! Há uns anos eu ficava boquiaberta com a birra dos outros miúdos e até dizia para com os meus botões: Ui, um filho meu não me vai fazer isto!

Anos depois, voltando ao presente: Pronto, prontinho, toma lá para não te armares em esperta! Ainda que não aconteça sistematicamente, porque o meu pequeno consegue ir ao centro comercial ou hipermercado sem pedir nada, já aqui o disse.

Mas acho que já aprendi uma lição: ir com ele a esses locais quando acabou de acordar ou mesmo com sono ou se estiver cansado, não é nada boa ideia! Há birra na certa se dizemos aquela palavra que eles não gostam – NÃO – a um pedido de um brinquedo qualquer. Vem o pacote todo à tona: choro impulsivo, espernear -, acompanhado do “MAS EU QUERO”. E de quem é a culpa? Não é dele, com certeza, porque não pediu para o levar naquele estado. Ele é uma criança adorável e muito meiga. E as manhãs costumam correr muito bem.

E ora, vá lá: Atire a primeira pedra quem nunca se desesperou e ficou numa pilha de nervos, num local público, com as birras deles? E quis escavar um buraco ou fugir dali enquanto os outros nos olham com censura? Ah, pois, sente-se um aperto no estômago e sei lá mais o quê!...

E culpa é de quem? Também é minha, admito a minha culpa de mãe de lhe querer dar muito amor e não querer que nada lhe falte!

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