segunda-feira, 22 de julho de 2013

O nascimento de uma luz!...


Vestes brancas de um lado para o outro, ruídos de passos apressados e donos de vozes meigas e gestos calmos. No meio de tanta azáfama, uma voz sossegava-me a alma, dona de mãos ternas a acalmar as minhas e de dedos entrelaçados nos meus. Parecia nunca mais chegar o momento, o instante em que iríamos descobrir um novo mundo. E toda aquela ansiedade, atacada por horas e horas de espera. O relógio parecia ter parado no tempo naquela chuvosa manhã de novembro depois de uma noite inteira ali sem ter para onde ir ou sequer poder ir!


Dores que iam e vinham sem dizer quando e como, apenas atenuadas pelo milagre da anestesia epidural e sossegadas pelo olhar ou carícia na minha pele do dono das mãos ternas. E pela voz segura – ainda que também ela nervosa, mas sem o querer transparecer!

E lá fora continuava a chover copiosamente depois de uma noite de relâmpagos a romper o céu enquanto um novo mundo estava tão calmo e quente dentro de mim. Até que, já esgotada, depois de 10 horas de inquietação e ansiedade, com as dores e aquele incansável desejo de beber água. Sim, queria tanto, tanto beber água! Acho que nunca tive tanta sede na vida e ninguém ma dava, porque diziam que tinha de ser mesmo assim! Não fosse o caso de uma cesariana de urgência!

E sem forças fui buscar energia onde já nem a sabia ter. E foi quando ouvi um som encantador como uma melodia e devorei com o olhar uma iguaria que de salgada só as lágrimas tem e que de doce tem tudo para o ser. Mas não é de comer. Ainda assim, os olhos engoliram-na como se o fosse! E a gula era de tal forma tanta, que o meu olhar ficou preso, ficou para ali a deliciar-se como não houvesse pressa, como se todos os relógios tivessem parado no tempo!

E todos os sentidos despertaram para este novo mundo: cheirei um perfume novo, as minhas mãos acariciaram uma nova e aveludada pele e os meus ouvidos despertaram com uma nova voz.

Descobria ali mesmo um novo mundo, mas que não era só meu - porque o momento também é do pai -, que despertou os nossos sentidos e muito mais! E onde todos os dias descobrimos mais e mais… E nos redescobrimos também a nós próprios nesta viagem que é a de ser pais! E já lá vão três anos e meio!...

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Seremos maus pais ao não dizer sempre NÃO?






Eu cá costumo dizer ao meu filho de três anos, em tom de brincadeira, que não temos uma fábrica de fazer dinheiro nas traseiras de casa, que os tostões não crescem nas árvores, etc. Ou então: Os papás estão pobres. Agora não pode ser, temos de comprar comida com os tostões.

São frases que saem disparadas da boca quando ele pede um boneco ou qualquer outra coisa no hipermercado ou no centro comercial que não podemos ou não queremos dar. Sim, porque não se pode transformar num consumista e achar que é tudo fácil e dado. E, muitas vezes, por muito que gostássemos, não podemos dar.

E não é que, algumas vezes, ele entende as nossas justificações? E até responde: "Mas eu tenho moedas e compro-te mamã. Com moedas de vidro!". E soltamos uma gargalhada com tamanha convicção, boa vontade e inocência tão própria daquela idade. Ou então, se não tem o brinquedo que pediu, vai perguntando se pode levar outros tantos que ele vai pegando enquanto testa o nosso NÃO e negoceia, com tanto jeitinho, a ver se ganha a negociação e nos testa a paciência. Também já deve ter pensado para com ele: "Se não levo brinquedos, então levo guloseimas". Sim, porque é capaz de pedir guloseimas ou bolachas em vez dos brinquedos aos quais dissemos NÃO. E lá traz qualquer coisa que pediu para casa...E quem ganhou a negociação? Ora lá está...

Mas, muitas vezes, damos-lhe os tais brinquedos, porque se portou bem e sem fazer qualquer birra.

Estarei a criar um pequeno tirano como aquele que a psicoterapeuta infantil Asha Phillips refere no seu livro “Um bom pai diz não"? Esbarrei hoje com um artigo do Expresso sobre esse livro, onde a psicoterapeuta defende que os pais modernos “estão a criar pequenos tiranos, que não sabem reagir a adversidades porque nunca foram contrariados. Ou então criam crianças medricas, absolutamente dependentes, que não sabem fazer nada sozinhas."

E torno a questionar-me: Estarei a criar um pequeno tirano? Só porque lhe quero proporcionar uma boa vida sem que nada lhe falte? Acho que não. Mas ela tem razão, porque temos de ter cuidado para, um dia mais tarde, não pagarmos uma fatura elevada pela nossa permissividade exagerada. E brinquedos a mais não são comida, não.

Mas não é nada fácil vestir a camisola de pais e não existe uma fórmula certa. E eles nem sequer vêm com manual! Como em tudo na vida, é preciso bom senso e saber dar-lhes a volta. E com isso vem o tal NÃO que os filhos não gostam nadinha de ouvir. E que nos custa tanto dizer e quando o dizemos até ficamos com um frio no estômago e, quantas vezes, com sentimento de culpa!...

Há que impor limites e dizer um NÃO com muita convicção na hora certa para que não estejamos a educar meninos mimados e os tais pequenos tiranos. E repito: só quem é mãe e pai é que sabe bem do que estou para aqui a falar! Há uns anos eu ficava boquiaberta com a birra dos outros miúdos e até dizia para com os meus botões: Ui, um filho meu não me vai fazer isto!

Anos depois, voltando ao presente: Pronto, prontinho, toma lá para não te armares em esperta! Ainda que não aconteça sistematicamente, porque o meu pequeno consegue ir ao centro comercial ou hipermercado sem pedir nada, já aqui o disse.

Mas acho que já aprendi uma lição: ir com ele a esses locais quando acabou de acordar ou mesmo com sono ou se estiver cansado, não é nada boa ideia! Há birra na certa se dizemos aquela palavra que eles não gostam – NÃO – a um pedido de um brinquedo qualquer. Vem o pacote todo à tona: choro impulsivo, espernear -, acompanhado do “MAS EU QUERO”. E de quem é a culpa? Não é dele, com certeza, porque não pediu para o levar naquele estado. Ele é uma criança adorável e muito meiga. E as manhãs costumam correr muito bem.

E ora, vá lá: Atire a primeira pedra quem nunca se desesperou e ficou numa pilha de nervos, num local público, com as birras deles? E quis escavar um buraco ou fugir dali enquanto os outros nos olham com censura? Ah, pois, sente-se um aperto no estômago e sei lá mais o quê!...

E culpa é de quem? Também é minha, admito a minha culpa de mãe de lhe querer dar muito amor e não querer que nada lhe falte!